O sonho de desenvolvimento é antigo. Mais uma geração acaba sem vê-lo realizado. Experimentamos uma longa fase de exportação tradicional de bens primários e consumo de capital externo. Somente entre 1940 e 1970 inauguramos um modelo distinto de substituição de importações que ampliou significativamente as indústrias locais, mas não a ponto de completar nossa modernização. eixamos de ser um país agrário, porém a urbanização foi precária. Criamos empresas ineficientes, cidades desordenadas e um regime autoritário.
Em meados do século passado reinventamos uma fórmula de desenvolvimento. Intelectuais como Prebisch defendiam que o protecionismo e o estímulo à produção doméstica promoveriam uma transformação similar a dos Estados Unidos e da Alemanha. O argumento básico era o de que sem alguma proteção não haveria como competir com companhias estrangeiras consolidadas, e que o padrão primário-exportador nos era prejudicial porque o valor dos alimentos e matérias primas se depreciava.
Após o esgotamento do modelo nacional-desenvolvimentista flertamos com o neoliberalismo. Não obstante os malefícios das políticas neoliberais, conquistamos no fim do século 20 a estabilidade monetária, peça fundamental para o desenvolvimento, mas ainda assim insuficiente. O Brasil passou a ter uma indústria competitiva e uma inflação civilizada. Nos últimos anos, houve ainda redução da pobreza, desigualdade e vulnerabilidades externas. Declaramos nossa segunda independência frente aos credores internacionais.
Nos governos FHC e Lula, o país acompanhou sua institucionalização democrática. Porém, não avançou economicamente tanto quanto na era desenvolvimentista. Embora de maneira vacilante, outras questões entraram na agenda, como a mudança climática, e continuamos a amadurecer o projeto nacional de um país já bem mais respeitado internacionalmente. Mas faltou o pulo do gato para o desenvolvimento, que agora ameaça nos escapar novamente pelas mãos.
Daqui às eleições de 2010 podemos abrir um debate sério de como assegurar um crescimento médio de 5%, preservando o meio ambiente e reduzindo as disparidades sociais. Mais perigosa do que a crise global é a consciência atrasada de um Brasil que não existe mais. Muita coisa mudou desde a escola cepalina. Somos hoje o maior interessado na liberalização do comércio, enquanto o protecionismo se fortalece no mundo rico. Os preços caíram, mas os alimentos e minérios continuarão a ser estratégicos com a emergência de outras nações. Isso não significa que devemos nos descuidar da indústria, pois os setores não são excludentes se baseados na ciência e tecnologia.
O Brasil, como a América Latina, precisa recuperar sua vocação intelectual e prática inovadora, mostrando ao mundo mais uma vez experiências bem sucedidas. Barreiras ideológicas do tipo neoclássicos versus keynesianos se prendem ao passado. No lugar de nos preocuparmos com jingles de presidenciáveis, deveríamos estar mais atentos às teses e coalizões políticas compatíveis com o país que desejamos.
Autor: Marcelo Coutinho