Os próximos quatro anos serão os mais difíceis da história do Brasil do ponto de vista econômico, na opinião do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Para ele, os problemas fiscais internos, somados à desaceleração da economia mundial, farão o país entrar em um período de turbulência que deve ser superado apenas a partir de 2026.
“Serão anos mais complicados que os da hiperinflação porque as bases da economia estão prejudicadas: o nível de investimento é baixo, não temos mais o bônus demográfico e a nossa produtividade ficou estagnada”, disse o ex-ministro durante o seminário Futuro: o Brasil que queremos para depois das eleições, organizado pelo Fórum de Jovens Empreendedores (FJE) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O desarranjo nas contas do governo, que teve entre as causas a necessidade de estímulos à economia enfraquecida pela pandemia, segundo o ex-ministro colocará sobre os ombros do próximo governo a pior herança fiscal da história. “O Brasil não tem mais âncora fiscal. O Orçamento que está no Congresso para 2023 é irrealista, acaba com o teto de gastos”, disse.
Para ele, nenhum dos dois principais candidatos na corrida pelo Planalto teriam condições de reequilibrar as contas públicas. “Será que Lula ou Bolsonaro conseguirão convencer o judiciário e os servidores a não aumentar seus benefícios, ou fazer a sociedade entender que será preciso reduzir gastos na educação. Acho que não.”
Mas além dos problemas internos, o país não poderá contar com os benefícios de uma economia global em expansão, pelo contrário. Maílson lembrou que a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia fizeram as empresas repensarem suas cadeias de abastecimento, levando suas estruturas de produção e fornecimento para mercados mais próximos e considerados amigos.
“Com essa reconfiguração, a eficiência da cadeia deve ser menor, o que significa o fim da era dos juros baratos, que por sua vez vai deixar a globalização mais lenta”, afirmou o ex-ministro. “O baixo crescimento do mundo vai afetar as exportações brasileiras”, completou.
Apesar dos problemas, Maílson disse que o país tem características estruturais sólidas que permitirão que atravesse a turbulência dos próximos quatro anos sem “virar uma Argentina”.
Entre essas características estão as instituições sólidas, um agronegócio competitivo, sistema financeiro sofisticado e regulamentado, fortes reservas internacionais e empresas fortes.
“Vamos ressurgir a partir de 2026 em condições satisfatórias. Provavelmente teremos novos líderes que estão amadurecendo, como Simone Tebet e Eduardo Leite”.
O economista Roberto Macedo, que também participou do seminário, é outro que vê problemas à frente para o país, relacionados principalmente com os benefícios criados neste último ano. “Foi como se o governo tomasse emprestados do ano que vem recursos para aplicar agora”, disse.
Macedo disse que o próximo governo precisará de um plano de governança, o que envolveria reformas e privatizações, para superar os desafios econômicos dos próximos anos.