Mais de 60 organizações não-governamentais, institutos e movimentos sociais ligados às questões ambientais e defesa de direitos humanos se posicionaram nesta segunda-feira (21) contra o Projeto de Lei nº 4391/2021, de autoria do atual presidente Jair Bolsonaro, que regulamenta o lobby.
Por meio de nota, o Observatório do Clima destaca que o tema é discutido há quase 30 anos e necessita de regulamentação, mas a “organização atual da pauta representa uma ameaça ao direito de participação social junto ao Legislativo, Executivo e Judiciário”.
De acordo com a rede de entidades ambientais, um exemplo é a proposta de penalização com multa ou proibição de participação em fóruns públicos para condutas como “constranger ou assediar participantes de eventos” ou “deturpar o teor de dispositivo de lei, de nota técnica ou ato de autoridade”.
Infrações subjetivas
Com signatários como Greenpeace e WWF, o documento ainda aponta que essas duas infrações são bastante subjetivas e podem ser usadas para silenciar aqueles que apresentarem opiniões divergentes e questionamentos, permitindo as autoridades que se sintam contrariadas a abrir um procedimento administrativo e penalizar aqueles que a criticarem ou a seus aliados.
Além disso, outra questão apontada pelas entidades é o fato de as comissões temáticas da Câmara pertinentes ao tema não terem tido tempo hábil para analisar o tema, ouvir a sociedade e analisar as implicações das regras propostas.
De acordo com eles, a eventual aprovação do projeto no contexto do final do governo Bolsonaro causa receio especialmente pelo histórico de desmonte dos últimos quatro anos, nos quais instituições de participação social foram extintas e esvaziadas, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o conselho gestor do Fundo Amazônia, a serem recompostos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Impactos desiguais
A forma proposta para pautar esse tema também desconsidera as diferentes capacidades financeiras, políticas, técnico-administrativas e de influência existentes entre os múltiplos setores da sociedade, afirmam as entidades que assinam o manifesto. Uma penalidade aplicada sobre uma organização sem fins econômicos, indígena ou quilombola, por exemplo, não teria o mesmo impacto caso feita sobre uma instituição dos setores industrial, da mineração ou do agronegócio.
Outro agravante é o fato de alguns grupos privados terem meios e mecanismos de articulação diferentes para exercer sua influência e fazer valer seus interesses, não exatamente por meio das atividades de lobby que o PL propõe regular.
As organizações que assinam o documento defendem a existência de mecanismos claros e transparentes de exercício da participação e do controle social das atividades e decisões públicas, reduzindo as desigualdades de representação existentes e estimulando essa participação.
Organizações signatárias