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Economia
Indústria nacional amplia investimentos para depender menos do exterior
Fabricantes de automóveis e eletrodomésticos, por exemplo, passaram a produzir componentes no país para atender a demanda com mais agilidade
29/11/2022
Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo

Indústrias dos setores automotivo, de motocicletas, eletrodomésticos, implementos rodoviários, móveis, eletroeletrônicos e embalagens têm liderado, nos últimos tempos, a compra de máquinas importadas para ampliar a produção local.

O setor automotivo, por exemplo, tem um grande projeto de atrair fabricantes de componentes que são importados principalmente da Ásia. Com a crise pela falta de semicondutores – que levou à paralisação de fábricas de veículos no mundo todo -, a indústria brasileira colocou todos os seus esforços nesses projetos para ficar menos dependente dos países daquela região.

A Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot, desenvolve atualmente um projeto de componentes para o novo Citroën C3, que começou a ser produzido em sua fábrica em Porto Real (RJ). Segundo a empresa, já foram nacionalizados com fornecedores em Minas Gerais e São Paulo os itens alavanca de abertura do capô, mola a gás, kit de ferramentas, pedal de freio e berço motor, antes importados da Índia.

O projeto continua, e novas peças passarão ser produzidas aqui, como componentes de suspensão.

EMPREGO

No setor de eletroportáteis, a Mondial, por exemplo, acelerou a nacionalização em 2020. Passou a fabricar no Brasil ferro elétrico, airfryer, multiprocessador e caixa acústica, antes importados da China. Com isso, criou mais de mil empregos na fábrica em Conceição do Jacuípe (BA).

“Era algo que estava previsto para fazermos em quatro anos e fizemos em um”, afirma Giovanni Marins Cardoso, sócio-fundador da empresa, líder do segmento no País.

Com a pandemia, diz ele, aumentaram o custo e a dificuldade de trazer esses eletroportáteis da China, e a opção foi produzir no Brasil. Com a fabricação local, a empresa ganhou agilidade para atender à demanda. “Se a venda no varejo vai bem, a fábrica daqui começa a produzir mais itens no dia seguinte, mas, se dependermos da importação da China, uma nova remessa demora entre 90 e 120 dias para chegar.”

Para viabilizar a produção doméstica dos quatro eletroportáteis, foram investidos em um ano e meio R$ 80 milhões em máquinas e equipamentos. “Dobramos o nosso parque de injetoras e desenvolvemos fornecedores locais de resistência elétrica, termostato e embalagens”, conta.

A companhia planeja uma nova rodada de nacionalização para fabricar localmente secador de cabelo, escova secadora, aspirador de pó e cafeteira. “O setor (de eletroeletrônico) passa por uma profunda transformação porque esse modelo de globalização tornou vulnerável a indústria do mundo inteiro”, diz Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Elétrica e Eletrônica (Abinee).

COMÉRCIO

Enquanto a indústria ensaia substituir importações, a estratégia do varejo para driblar a alta de preços e problemas logísticos foi trocar parceiros comerciais. Um estudo feito pelo economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, que comparou quantidades médias importadas de 3,7 mil bens de consumo de janeiro a outubro, entre 2012 e 2019, antes pandemia, com o mesmo período entre 2020 e 2022, revela que houve troca de países fornecedores.

As quantidades importadas de parceiros comerciais tradicionais do Brasil, como EUA, Países Baixos, França, Coreia do Sul, registraram quedas de dois dígitos na pandemia em relação ao período anterior. Em contrapartida, foram ampliadas as compras de outros países, onde os preços recuaram, como Índia, Bélgica, Portugal, Turquia, Vietnã.

Na lista dos parceiros comerciais com maiores crescimento de volumes em período pós-pandemia aparecem também os vizinhos Peru e Paraguai, além do Chile. “Os parceiros comerciais mais próximos do Brasil estão ganhando força”, observa Bentes, enfatizando que o processo de substituição de importação leva tempo.

Com a pandemia, os governos de vários países tiveram de socorrer a população com auxílios. Essa injeção extra de recursos fomentou a alta de preços. Por outro lado, os lockdowns na China, a fábrica do mundo e também o epicentro da pandemia, provocaram a falta de componentes importados. Também nesse contexto, o custo do frete marítimo disparou.