Por Lucianne Carneiro
Após dois anos de queda por causa do efeito das mortes provocadas pela pandemia de covid-19, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer voltou a subir em 2022. As informações são das Tábuas de Mortalidade 2022, divulgadas nesta quarta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tendência, segundo a gerente de Demografia do instituto, Izabel Guimarães Marri, é que essa trajetória se mantenha nos dados referentes a 2023.
O indicador, que era de 76,2 anos em 2019, caiu para 74,8 anos em 2020, primeiro ano da pandemia, e recuou ainda mais em 2021, para 72,8 anos. Em 2022, subiu para 75,5 anos, na média nacional.
As novas Tábuas de Mortalidade 2022 apontam que as estimativas de vida ao nascer do brasileiro dos anos de 2020, 2021 e 2022 foram menores que as inicialmente divulgadas pelo instituto.
“A esperança de vida se recuperou um pouco em 2022 após um ano de 2021 de pico de mortes por causa da pandemia. A tendência é que isso aumente mais em 2023, mas para saber o nível é preciso aguardar”, explica Marri.
Em 2022, os brasileiros com 60 anos tinham expectativa de viver mais 21,9 anos, mostram as Tábuas de Mortalidade 2022. “A expectativa de vida descreve ou sintetiza o nível de mortalidade da população. É uma maneira de simplificar o que seria o cálculo dos níveis da mortalidade para cada um dos cortes de nascimento que compõem uma determinada população”, explica a gerente de Demografia do IBGE.
Se as crianças nascidas em 2022 têm estimativa de viver até os 75,5 anos, por exemplo, a expectativa é que os brasileiros com 60 anos vivam mais 21,9 anos, totalizando 81,9 anos. O raciocínio é que se a pessoa viveu até os 60 anos, já enfrentou alguns riscos de morte e sobreviveu a eles. Assim, tem uma expectativa total de vida maior.
2023
A gerente de Demografia do IBGE explica que há um “jogo de forças” para influenciar a expectativa de vida do brasileiro em 2023: aumento de mortes por causa da continuidade do envelhecimento da população e redução das mortes por causa do fim da pandemia.
“No longo prazo, as tábuas de mortalidade devem seguir a trajetória traçada anteriormente se a pandemia for controlada, sem efeitos duradouros [de seu efeito na expectativa de vida”, diz Marri.
Durante a crise sanitária, mesmo que as mortes ocasionadas pela covid tenham se concentrado na população idosa, isso afeta a esperança de vida ao nascer e também aquela das faixas etárias mais jovens.
“A esperança de vida ao nascer é o resumo do que se espera viver em cada uma daquelas idades, sintetiza uma ‘experiência de mortalidade’. Mesmo que o aumento dos óbitos tenha sido entre os idosos, está refletida na esperança de vida ao nascer, aos 10 anos, aos 15 anos…”, nota a gerente de Demografia do IBGE.
Esse impacto ocorre também, de acordo com o analista do IBGE Márcio Mitsuo Minamiguchi, da área de demografia do instituto, por causa do atual perfil etário da população, mais envelhecida e com maior expectativa de vida do que se observava há algumas décadas no país. Em um cenário, aponta ele, em que houvesse alto índice de mortalidade infantil e de jovens, e que a expectativa de vida fosse menor, a morte de idosos por covid poderia até mesmo não se refletir na expectativa de vida.
Esta é a primeira versão dos indicadores das Tábuas de Mortalidade de 2022 com informações do Censo Demográfico, além de atualizações do número de mortes nesses anos, com o uso de metodologias para reduzir os sub-registros. Posteriormente, serão incorporados outros dados do Censo Demográfico, como as informações por Estados, que permitirão dar mais precisão aos indicadores, segundo Marri.
Antes dessa versão, o IBGE tinha divulgado a expectativa de vida para os anos de 2020, 2021 e 2022 a partir das projeções populacionais de 2018, sem incluir o contexto da crise sanitária. Ou seja, consideravam o cenário do que teria ocorrido com a população se não tivesse existido a pandemia de covid-19.
Por gênero
As Tábuas de Mortalidade 2022 trazem também as expectativas de vida por sexo. Em 2022, homens tinham expectativa de 72 anos de vida ao nascer, enquanto as mulheres tinham de 79 anos. O movimento do indicador entre homens e mulheres desde 2019 seguiu o padrão do total da população: caiu na passagem entre 2019 e 2020 e depois entre 2020 e 2021, para depois se recuperar em 2022.
Entre as mulheres, a expectativa de vida ao nascer caiu de 79,7 anos em 2019, para 78,6 anos em 2020 e depois 76,5 anos em 2021. Entre os homens, o número passou de 72,8 anos em 2019 para 71,1 anos em 2020 e ficou abaixo dos 70 anos em 2021 (69,2 anos).
“Há uma clara ‘sobremortalidade’ masculina, especialmente dos homens mais jovens, por causa de razões não naturais, como violência ou acidentes de trânsito, o que afeta a expectativa de vida”, afirma Marri.
O indicador, que era de 76,2 anos em 2019, caiu para 74,8 anos em 2020, depois recuou para 72,8 anos, em 2021; em 2022, subiu para 75,5 anos, na média nacional — Foto: Samu. D/Unsplash
Mortalidade infantil
A taxa de mortalidade infantil no Brasil, considerando as crianças de até 1 ano, era de 12,84 a cada mil em 2022, apontam os dados das Tábuas de Mortalidade 2022.
A taxa aponta a probabilidade de um recém-nascido falecer antes de completar o primeiro ano de vida e é um indicador de saúde, relacionado com as condições de vida de uma população. Quanto menor for a taxa, melhores tendem a ser essas condições.
O indicador começou a cair nos anos 1940/1950, quando era de 171 crianças a cada mil. O movimento foi puxado pela melhora das condições de saúde do país, do avanço das vacinas e de outros meios de medicina preventiva.
Estudiosos apontam o efeito, ainda, de fatores como aumento da escolaridade feminina e do percentual de domicílios com esgotamento sanitário, água potável e coleta de lixo, além de maior e melhor acesso a serviços de saúde, como no atendimento pré-natal e durante os primeiros anos de vida dos bebês.
Ainda na década de 2000, a mortalidade infantil era mais de duas vezes o que é hoje, com uma taxa de 29,02 crianças a cada mil no ano 2000. Nos últimos anos, a redução dessa taxa tem sido mais lenta: já era de 13,82 em 2015.