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Banco Central reduz taxa de juros para 11,75% ao ano
A decisão foi unânime e os diretores do BC voltaram a alertar sobre a importância da manutenção da meta fiscal, que ainda não foi aprovada pelo Congresso e corre o risco de ser alterada
14/12/2023
O Estado de Minas / Agência Estado

O Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (13/12), reduzir a taxa básica da economia (Selic) em mais 0,50 ponto percentual, pela quarta reunião consecutiva do Comitê de Política Monetária (Copom), conforme o esperado pelo mercado e o sinalizado pelo colegiado na última reunião, entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro.

Com isso, a taxa Selic passou de 12,25% para 11,75% ao ano, o menor patamar desde março de 2022. A decisão foi unânime e os diretores do BC voltaram a alertar sobre a importância da manutenção da meta fiscal, que ainda não foi aprovada pelo Congresso e corre o risco de ser alterada. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, informou o comunicado.

De acordo com a nota do Copom, se o cenário esperado for confirmado, haverá “redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”. Segundo os diretores do BC, “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

“A redução da Selic anunciada, hoje, pelo Banco Central, de 12,25% ao ano para 11,75% ao ano terá um efeito muito pequeno nas operações de crédito e esse fato ocorre uma vez que existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores que na média da pessoa física atingem 122,04% ao ano provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas”, avaliou Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac).

A decisão do Copom coincidiu com a reunião Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), em mais uma “super quarta” para o mercado financeiro. Na tarde de hoje, o Fed manteve as taxas de juros no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano e informou que “continuará a avaliar as informações da política monetária” e ainda manteve preocupação com as indicadores do custo de vida. “A inflação diminuiu ao longo do ano passado, mas permanece elevada”, destacou o comunicado do Fomc. Além disso, informou que o comitê continuará a reduzir as participações em títulos do Tesouro norte-americano e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências, conforme descrito nos seus planos anunciados anteriormente. “O Comité está fortemente empenhado em fazer com que a inflação regresse ao seu objetivo de 2%”, destacou a nota.

“Como todos esperavam que o Federal Reserve pusesse fim ao atual rali em curso, sinalizando a necessidade de uma postura mais agressiva para combater a inflação ainda persistente, o presidente da autoridade monetária Jerome Powell e os seus pares mostraram claramente que o ciclo de subida das taxas terminou e que dois ou mais cortes nas taxas estão provavelmente a caminho em 2024″, destacou Thomas Monteiro, editor principal da seção de Opinião e Análise do Investing.com. Segundo ele, a decisão de hoje significa risco também para o próprio Fed, “à medida que Powell se debate com a ideia de que a inflação não regressará em uma temida segunda onda”.

Veja a íntegra da nota do Copom divulgada nesta quarta-feira:

O ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, com destaque para as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,6% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,1% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.