Estudos já indicaram que se sentir feliz contribui para a saúde física. O estilo de vida, seja pela prática de atividade física, a presença de uma sólida rede de apoio e até mesmo o acesso à natureza, é cada mais determinante para o bem-estar.
Pensando nisso, um projeto quer ensinar cidades ao redor do mundo a serem mais felizes. A iniciativa, criada pela Fundação Mundial para a Felicidade, espera recrutar 100 cidades até o final do próximo ano.
“Para ganhar o título de ‘cidade da felicidade’, é necessário mostrar e reforçar o compromisso com o bem-estar dos residentes”, explica o sociólogo espanhol Luis Gallardo, presidente da Fundação Mundial da Felicidade.
A implementação varia em cada município, conforme as suas necessidades, definidas após um processo inicial de três meses. “O tempo para implementar totalmente a iniciativa pode mudar, dependendo das condições existentes na cidade e do nível de apoio e recursos disponíveis”, indica Gallardo.
De forma geral, a proposta do programa é trabalhar junto às lideranças regionais para colocar a felicidade no quadro estratégico dessas cidades.
Não há uma “cidade da felicidade” no Brasil, mas duas estão em seleção. Ainda não há nomes divulgados, segundo a equipe do projeto. Há modelos semelhantes à iniciativa exclusivos para escolas e empresas.
Pinecrest, município na Flórida (EUA), recebeu o título de “cidade da felicidade” em fevereiro. O conselho e o prefeito participaram das discussões, que priorizaram melhorar espaços públicos, promover programas de bem-estar para a comunidade e integrá-los à educação.
“O foco geral é no bem-estar. Para nós, o importante é o foco estratégico na felicidade dos 20 mil habitantes da cidade”, definiu Gallardo. Segundo ele, as iniciativas indicaram aumento na satisfação dos moradores e na integração da comunidade.
Como funciona?
O projeto indica a presença de um diretor de bem-estar, capaz de transformar o conceito de felicidade em propostas reais e políticas públicas. Ele atua como um “tradutor”, indicando o que tornaria aquele local mais feliz. O trabalho também inclui:
Engajar todas as esferas da sociedade, incluindo eventuais parceiros e captar recursos;
Tornar a felicidade mensurável, por meio de índices e análises periódicas (como o nível de satisfação dos habitantes);
Entender como usar novas tecnologias em benefício do bem-estar —e testá-las.
“O diretor de bem-estar desempenha um papel crítico na criação de ambientes onde os indivíduos podem prosperar, construindo comunidades e organizações mais resilientes, produtivas e harmoniosas”, descreve a Fundação Mundial da Felicidade.
Objetivos preconizam felicidade individual junto ao bem-estar coletivo.
Uma “cidade da felicidade” tem nove esferas de bem-estar
A estratégia é fundamentada em nove esferas, que propõem o bem-estar individual e coletivo. São elas:
Ecológica
Importância da qualidade do ambiente natural;
Garantir a qualidade do ar;
Prevenir a poluição da água;
Proporcionar acesso a espaços verdes.
Comunal
Criar um ambiente comunitário seguro;
Promover atividades voluntárias;
Sensação de segurança e pertencimento à comunidade.
Social
Foco nas conexões sociais;
Incentivar relacionamentos interpessoais significativos;
Acesso às atividades sociais.
Cultural
Promover engajamento com o patrimônio cultural;
Continua após a publicidade
Acesso a experiências culturais;
Facilitação do idioma local.
Física e mental
Monitorar a saúde dos habitantes;
Acessibilidade aos serviços de saúde;
Promoção de comportamentos saudáveis.
Espiritual
Importância da gratidão, reflexão e meditação para o bem-estar espiritual;
Incentivar o acesso a espaços religiosos e práticas que promovam a paz interior.
Intelectual
Gerar oportunidades de emprego;
Educação contínua;
Acesso à informação.
Financeira
Estabilidade financeira é crucial para o bem-estar;
Garantir renda estável, acesso a bens materiais e moradia acessível.
Civil
Engajamento cívico e a governança transparente;
Promover consciência dos direitos individuais e a participação ativa na vida cívica.
Resultados
Priorizar a felicidade dos habitantes não tem uma repercussão pessoal, exclusivamente. A ideia é fazê-los felizes e, com isso, promover o bem-estar da comunidade e a coesão social. Isso favorece a captação de investimentos ao município, de talentos, além de gerar reconhecimento.
Segundo Gallardo, os principais resultados são:
Melhorias na qualidade de vida e no bem-estar geral da comunidade;
Aumento da satisfação dos residentes;
Redução de problemas sociais (como nas taxas de criminalidade);
Também há impactos aos custos de saúde, já que o sistema pode ficar menos sobrecarregado devido à melhor qualidade de vida.