Por Gabriel Shinohara
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que é uma boa notícia que o crescimento está surpreendendo não só nas economias avançadas, “mas em mercados emergentes. Brasil é um exemplo disso”. Campos Neto concedeu uma entrevista para o canal de TV americano CNBC em Washington, gravada no início da tarde desta terça-feira (22).
O presidente do BC classificou como notícias “não muito boas” quando se pensa em produtividade e no crescimento estrutural para o futuro. “Não tivemos ganho de produtividade na maioria dos lugares, a dívida global é muito alta e temos várias coisas que precisamos endereçar pós-pandemia. Algo que eu acho que provavelmente vai ser o foco dessa reunião aqui”.
EUA e inflação global
Na entrevista, Campos Neto reforçou a visão de que haverá um “soft landing”, ou pouso suave, da economia americana. O presidente do BC explicou que a probabilidade de cenário para um “hard landing” diminuiu e de “no landing” aumentou, mas o cenário de “soft landing” ainda é o mais provável.
Sobre a inflação global, o presidente do BC disse que a questão mais difícil é quando há uma situação de inflação se elevando e o crescimento caindo. Segundo ele, na maior parte dos mercados emergentes, o que se vê é um mercado de trabalho resiliente e um “crescimento surpreendo para cima, como é o caso do Brasil”.
Para Campos Neto, a questão real é “se as taxas estão tão altas, como as condições financeiras não estão restritivas suficiente para retrair a economia de crescer. Acho que essa é a pergunta que está sendo feita não só no Brasil, mas em diferentes lugares”.
O presidente do BC afirmou que parte disso é a política fiscal, mas parte são mudanças estruturais que permitiram chegar a esta situação.
Autonomia do BC
O presidente do BC afirmou que a autonomia da autoridade monetária “é muito importante para os governos”. Na entrevista, Campos Neto foi questionado sobre as críticas que o ex-presidente dos Estados Unidos e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, tem feito sobre a atuação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e as que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma fazer ao BC brasileiro.
“No final, quando as pessoas têm expectativas de que você tem o ciclo de política monetária separada do ciclo da política, você tem mais credibilidade. Quando você tem mais credibilidade, você tem menos prêmio de risco na curva de juros e menos risco associado ao país. Quando você tem isso, todas as outras políticas funcionam melhor”, disse Campos Neto.
O presidente do BC disse que, ao minar a autonomia dos bancos centrais, o que muitos líderes estão fazendo é criando problemas para o próprio governo “e poderiam estar melhor ao não fazer isso”.
Campos Neto foi perguntado ainda sobre o quadro fiscal no Brasil e ressaltou que essa “é uma questão global” e que economias avançadas aumentaram bastante suas dívidas. No caso do Brasil, Campos Neto ressaltou que “quando você olha no passado no Brasil, toda vez que o Banco Central conseguiu baixar os juros de maneira estrutural era associado a um tipo de choque positivo no fiscal”.
Nesse cenário, o presidente do BC ressaltou que é “muito difícil” imaginar que, saindo da situação de agora, será possível viver com taxa de juros “muito mais baixas do que as de hoje a não ser que consigamos, de alguma maneira, produzir um choque positivo no lado fiscal”.