Em defesa dos Municípios

Medidas que podem ser tomadas pelos Municípios frente à crise financeira
François E. J. de bremaeker - 01/04/2009

Já se acumulam, nos gabinetes de Prefeitos, Governadores e do Presidente da República, problemas causados pela queda da receita. No caso dos Municípios, os números impressionam, com a queda da arrecadação do IPI e do IR, que vão constituir o FPM.

As estimativas da Secretaria do Tesouro Nacional, feitas antes da crise econômica, apontavam no sentido de um crescimento da ordem de 10,59% para o ano de 2009. No entanto, no primeiro trimestre de 2009 o FPM apresentou uma queda de 9,10% em relação a igual período do ano anterior, sem levar em consideração a inflação do período.

Os Municípios de menor porte demográfico dependem mais do FPM do que os demais Municípios. Nos grandes Municípios o ICMS (repasse estadual) tem um peso maior nas finanças municipais.

O comportamento da arrecadação do ICMS, da qual 25% vai para os Municípios, varia bastante de Estado para Estado. Os Municípios da região Sudeste recebem 56,75% de todo o ICMS transferido a eles. Para a região Sul vai 15,93% e para o Nordeste 14,51%.

O Presidente da República pouco mais poderá fazer pelos Prefeitos do que, como prometeu em Salvador, “olhar com carinho” para o problema financeiro que eles estão enfrentando por causa da redução dos valores que recebem da União por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

O ministro das Relações Institucionais, reconhece a procedência das reivindicações dos Prefeitos e admite que, para aliviar a situação dos municípios, o governo poderá liberar as emendas ao Orçamento da União feitas pelos congressistas e que foram congeladas. Mas essas verbas são carimbadas, isto é, têm destinação própria e compulsória, e não resolverão o problema de caixa dos Prefeitos.

Segundo o Ministro, como a crise atinge a arrecadação tributária dos três níveis de governo e a hora é de contenção de gastos.

É difícil cortar gastos quando o principal item de despesa dos Municípios, que se refere aos salários e encargos foi reajustado em 12% a partir de 1º de fevereiro, como se não existisse a crise financeira.

Na hora de começar a cortar despesas, as primeiras ações são voltadas para os investimentos, para o corte das horas-extras, para a redução do número de cargos comissionados, para o adiamento do pagamento dos fornecedores e dos prestadores de serviços. Outra saída é não conceder o reajustamento para os servidores que ganham acima de um salário mínimo nas mesmas bases.

Efetuar cortes na compra de material de consumo e restringir o uso de veículos produz alguma economia, mas pode representar uma queda de qualidade nos serviços prestados, principalmente na área da saúde e da educação. Deixar de cuidar da cidade representa diminuir a qualidade de vida dos cidadãos.

Mas será que são apenas estas as despesas passíveis de contenção?

E as despesas efetuadas pelos Municípios com serviços, ações e programas de responsabilidade dos Estados e da União?

O sacrifício tem de ser feito apenas com os serviços municipais ou poderia ser feito no custeio dos serviços de responsabilidade (competência) dos Estados e da União.

Estudo elaborado pela Transparência Municipal mostra que  em 2007 o custeio destes serviços representava um gasto da ordem de R$ 9,66 bilhões. Em 2009 este gasto pode chegar a R$ 11 bilhões.

E o pior é que estes serviços são relativamente mais caros para os Municípios de menor porte demográfico. Para Municípios com população até 10 mil habitantes são comprometidos 10,75% do seu orçamento. Para Municípios com população acima de 1 milhão de habitantes são comprometidos 1,62% do seu orçamento.

E quais são estes serviços?

Na área da saúde pública:

•     fornecer material e efetuar a manutenção de prédios estaduais
•     ceder pessoal e manter os serviços estaduais de apoio;
•     manter o serviço estadual de hemocentro;
•     suplementar os recursos não previstos nos convênios;
•     fornecer suporte às campanhas de vacinação.

Na área da educação:

•  ceder professores para as escolas estaduais;
•  fornecer merenda escolar e transporte escolar para os alunos das escolas estaduais;
•  efetuar a manutenção das escolas estaduais;
•  ceder pessoal e manter os serviços estaduais de apoio.

Na área da assistência social:

•  manutenção de serviços de assistência social estadual.

Na área da administração fazendária:

•  manter um núcleo de atendimento aos contribuintes;
•  ceder pessoal e manter os serviços estaduais e do Governo federal de
agências, postos, delegacias e exatorias.

Na área da agricultura:

•  manter a unidade municipal de cadastramento;
•  manter o serviço de extensão rural;
•  manter os serviços de polícia florestal e do horto estadual.

Na área das comunicações:

•  manter o serviço de correios e telégrafos;
•  manter o posto telefônico.

Na área do judiciário:

•  manter o Fórum;
•  manter os serviços da justiça eleitoral e dos cartórios;
•  manter os serviços de defesa do consumidor;
•  manter os serviços de juizados especiais (juizado de menores, juizado de
pequenas causas, vara da infância e da juventude);
•  manter os serviços de defensoria pública;
•  manter os serviços de promotoria de justiça;
•  dar suporte à manutenção do pessoal do judiciário.

Na área da segurança pública:

•  manter a junta de alistamento militar e o tiro de guerra;
•  auxiliar na manutenção da polícia militar;
•  auxiliar na manutenção da polícia civil;
•  auxiliar na manutenção do corpo de bombeiros;
•  auxiliar na manutenção de delegacias especiais
•  (entorpecentes, idoso, meio ambiente, mulher);
•  auxiliar na manutenção do instituto médico legal;
•  auxiliar na manutenção da polícia rodoviária.

Na área do trabalho e da previdência:

•  auxiliar na manutenção de órgãos do setor (delegacia, secretaria, posto):
• auxiliar na manutenção do Serviço Nacional de Emprego;
•  auxiliar na manutenção do Tribunal Regional do Trabalho;
• expedir cartas de trabalho.

Na área de transporte e trânsito:

•  auxiliar na manutenção dos departamentos e circunscrições de trânsito;
•  manutenção de estradas federais e estaduais;
•  manutenção de aeroportos.

O estudo completo sobre os gastos municipais se encontra na seção “estudos” do Observatório de Informações Municipais.