Por Taís Hirata
O número de concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) municipais teve um salto nos últimos quatro anos, na gestão das prefeituras entre 2021 e 2024, em comparação com o ciclo anterior, de 2017 a 2020. Os projetos anunciados no período cresceram 59,2%, alcançando 2.016 iniciativas, enquanto os contratos firmados subiram 56,5%, para 515. Os dados são de levantamento da consultoria Radar PPP, feito a pedido do Valor.
“Cada vez mais há uma expansão. As prefeituras passam por desafios fiscais para realizar investimentos diretos. Além disso, as experiências positivas em outros municípios geram um incentivo natural”, afirma Frederico Ribeiro, sócio da Radar PPP.
A agenda de concessões já está presente em governos de todos os espectros políticos e diversos Estados, diz Sandro Cabral, professor de Estratégia e Gestão Pública do Insper. “A pauta não é de direita ou de esquerda, os dados mostram isso. É um instrumento que tem sido amplamente usado para fazer frente às demandas da população.”
Uma análise feita pelo pesquisador com todas as PPPs firmadas no país (municipais e estaduais) até o primeiro trimestre de 2023 revela que 50% dos contratos estão no Sudeste e, na sequência, vem o Nordeste (com 28%), região que foi predominantemente governada pela esquerda na última década, destaca Cabral. Após São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os Estados com mais PPPs iniciadas são Bahia, Maranhão, Pernambuco, Piauí e Ceará, nessa ordem, aponta a pesquisa.
Um fator adicional que impulsionou o avanço dos projetos municipais é o apoio de órgãos estruturadores na elaboração dos editais, principalmente a Caixa Econômica Federal, destaca Maurício Moysés, sócio do Moysés & Pires Advogados. “O apoio da Caixa, via FEP [Fundo de Apoio à Estruturação de Projetos de Concessão e PPP], desencadeou muitos projetos bons. Há também apoio do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] em menor escala e do IFC [International Finance Corporation], que nos últimos anos focou mais nos municípios”, disse.
Segundo os especialistas, trata-se de um estímulo importante, que melhorou a qualidade dos projetos e reduziu sua mortalidade. “A qualidade dos projetos no país, de forma geral, avançou muito nos últimos anos”, diz Ribeiro.
No entanto, analistas avaliam que ainda há desafios importantes. Na elaboração dos contratos, um dos principais entraves é a estruturação das garantias no caso das PPPs – diferentemente das concessões plenas, as parcerias preveem desembolsos do poder público para garantir a viabilidade do projeto. A dificuldade das prefeituras é oferecer garantias confiáveis de que os pagamentos vão acontecer ao longo de todo o contrato, afirma Camillo Fraga, sócio da consultoria Houer. “Muitas PPPs naufragam por falta de garantias boas. É um desafio, não adianta oferecer por exemplo ativos imobiliários sem liquidez.”
Mais do que a modelagem dos leilões, uma grande preocupações hoje é o monitoramento dos contratos de longo prazo pelas prefeituras. “A fiscalização é um desafio. As prefeituras precisam ter estrutura para fazer essa gestão. Um gargalo é a falta de pessoas capacitadas, que façam o trabalho de forma republicana, que não sejam cooptadas por interesses do setor privado. Há um desafio principalmente nos municípios menores”, afirma Cabral.
Analistas também observam fragilidade nos órgãos reguladores municipais. “As prefeituras vão precisar de apoio na implementação dos contratos. Os órgãos que fazem a estruturação entregam e depois não estão lá para acompanhar. Talvez valha a pena ficarem no início, porque a concessão é um tipo de contrato novo para as administrações. Alguns setores, como saneamento, têm agências reguladoras estaduais que podem assumir a função, mas outros, como iluminação pública, não”, diz Moysés.
Segundo o levantamento da Radar PPP, os 978 contratos de concessão e PPPs municipais iniciados no país estão distribuídos em 17 segmentos. O de estacionamentos têm o maior volume, com 151 projetos – segundo Ribeiro, a liderança se explica pelo fato de serem contratos muito simples. Na sequência, vêm os setores de água e esgoto (133 contratos), unidades administrativas (119), iluminação pública (114) e cultura, lazer e comércio (112).
Todos os analistas destacam que um dos segmentos que mais cresce é o de iluminação pública. Em 2015, a responsabilidade pelo serviço, que era das distribuidoras de energia, passou a ser das prefeituras, o que desencadeou uma onda de projetos. Outro facilitador é que o serviço tem recursos carimbados, cobrados na conta de luz, via Cosip (Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública). A tendência é que esse tipo de projeto continue em expansão, principalmente porque a reforma tributária deverá ampliar a possibilidade de usos da Cosip, que também poderá financiar serviços como câmeras de vigilância e semáforos. “As PPPs poderão ser mais amplas, incluindo o conceito das cidades inteligentes”, diz Fraga.
Para Ribeiro, da Radar PPP, a expectativa é que as concessões municipais sigam avançando nas próximas gestões. Outros setores deverão ganhar destaque, como os de infraestrutura social, que incluem PPPs de escolas e hospitais, e saneamento, diz.