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Economia
Educação, demografia e trabalho
A taxa de investimentos continua patinando, as inovações não ocorrem e a qualidade da educação não melhora.
02/09/2024
Valor Econômico

Por Naercio Menezes Filho

 

Nas últimas semanas foram divulgados vários indicadores importantes para o futuro do Brasil. No final de julho ficamos conhecendo o desempenho do mercado de trabalho no 2º trimestre de 2024. Em seguida, foram divulgados os resultados das avaliações de aprendizado realizadas em 2023. E na semana passada conhecemos as novas projeções populacionais do IBGE. O que mostram estes resultados? Como eles conversam entre si? Como podemos usar estes resultados para desenhar políticas públicas eficazes?

Os resultados do mercado de trabalho mostraram que a taxa de desemprego no segundo trimestre deste ano ficou em 6,9%, uma das menores desde o início da série que usa dados da Pnad Contínua do IBGE. Além disto, o salário real aumentou 5,8% em um ano e a massa de rendimentos bateu o recorde da série, o que mostra que o mercado de trabalho está aquecido. Estas notícias são obviamente positivas, pois é muito bom que os trabalhadores estejam ganhando mais e que mais pessoas estejam trabalhando.

Este bom desempenho traz de volta ao mercado de trabalho pessoas que estavam afastadas há algum tempo, evitando uma depreciação ainda maior do seu capital humano. E o aumento da população economicamente ativa mostra que as pessoas continuam preferindo trabalhar recebendo bons salários a viver apenas com as transferências de renda.

Sem aumentos de produtividade, excesso de estímulos provocará aumento na inflação de serviços e dos juros

Além disto, vários estudos mostram que jovens que entram no mercado de trabalho em períodos de aquecimento tendem a ter maiores salários ao longo de todo o seu ciclo de vida. Isto ocorre porque estes períodos aumentam as oportunidades de emprego para estes jovens, que podem experimentar mais alternativas profissionais sem muito custo, o que melhora o “casamento” entre as habilidades dos jovens e as necessidades das empresas.

Porém, é necessário ter cautela com as medidas de estímulo ao crescimento econômico, pois, se não houver aumentos de produtividade, um excesso de estímulos provocará aumentos na inflação de serviços, que, por sua vez, levará a aumentos da taxa de juros. Sem aumentos de produtividade, é preciso ir devagar com o andor.

Outro resultado importante foi a divulgação das novas projeções populacionais do IBGE. Os dados mostram que a taxa de fecundidade se reduziu mais do que era esperado na última projeção, tendo passado de 2,3 para 1,6 filho por mulher nos últimos 23 anos. Além disto, a expectativa de vida ao nascer aumentou de 71 para 76,4 neste mesmo período. Isto significa que a porcentagem de idosos (com 60 anos ou mais) na população duplicou no período. As projeções indicam que esta parcela representará 37,8% da população do país em 2070.

O aumento da expectativa de vida é obviamente uma boa notícia, reflexo dos avanços na medicina e do maior acesso dos brasileiros mais pobres ao sistema único de saúde. Além disto, teremos cada vez menos crianças e jovens no futuro, o que aumentará os recursos educacionais por aluno e tenderá a diminuir a criminalidade. Da mesma forma, houve forte diminuição da mortalidade infantil, que passou de 28 para 12 óbitos por mil nascidos vivos no mesmo período, resultado da expansão com qualidade do nosso sistema de atenção básica na saúde.

Porém, os dados também trazem motivos para preocupações, pois os gastos com saúde tenderão a aumentar continuamente como porcentagem do PIB daqui para frente. Além disto, teremos cada vez menos pessoas em idade ativa trabalhando para sustentar estes gastos e também as aposentadorias. Também neste caso será necessário aumentar bastante a produtividade do trabalho para que possamos aumentar o bem-estar da população, mesmo com a diminuição do número de trabalhadores que virá inevitavelmente.

A terceira notícia foi a divulgação dos resultados do Saeb, que medem o aprendizado dos alunos medido através dos exames padronizados de Matemática, Leitura e Ciência.

Novamente, os resultados foram bastante decepcionantes. Houve redução no aprendizado médio com relação a 2019 (antes da pandemia) no ensino fundamental e no ensino médio.

Interessante notar que o indicador educacional oficial (Ideb), caiu menos do que o resultado de aprendizado, pois este indicador também depende da taxa de aprovação dos alunos, que melhorou em várias redes. Isto é positivo, desde que não tenha havido manipulação de índices, pois vários estudos mostram que a repetência prejudica o aprendizado no longo prazo. Ela acaba por estigmatizar o aluno, além de ser altamente ineficiente do ponto de vista econômico. Mas a evolução do aprendizado ainda ficou bem aquém das metas estabelecidas no passado.

Em conjunto, os resultados anunciados mostram uma tendência que tem se repetido de várias formas e que tem sido demonstrada com vários indicadores. Nas últimas décadas, temos tido sucesso nas políticas sociais, melhorando significativamente a vida da parcela mais pobre da população. Isso se reflete na diminuição de mortalidade infantil, no aumento de expectativa de vida e nos aumentos de renda e consumo dos mais pobres observados nas últimas décadas. Além disto, temos períodos de crescimento econômico, como o atual, que melhoram a vida dos trabalhadores menos qualificados.

Entretanto, temos tido muita dificuldade para encontrar mecanismos para melhorar a produtividade no longo prazo. A taxa de investimentos continua patinando, as inovações não ocorrem e a qualidade da educação não melhora. Assim, não conseguimos dar oportunidades de crescimento profissional sustentado para os jovens que nascem em famílias mais vulneráveis. Se não mudarmos esta situação, estes jovens vão continuar trabalhando em ocupações precárias no setor informal, engravidando na adolescência e dependendo de programas de transferência de renda.

Em suma, progredimos muito na área social, mas sem crescimento sustentado de produtividade, não haverá recursos para sustentar a população idosa no futuro e não conseguiremos formar uma classe média numerosa, que acredite no nosso sistema político e no Estado como a principal forma de resolver seus problemas.