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Economia
Investimento se recupera, mas segue abaixo do patamar de 2013
14/09/2022
O Estado de Minas / Agência Estado

Uma das questões é qual será a contribuição do setor público para que o país consiga suprir as necessidades de investimentos em infraestrutura

 

Apesar do crescimento da taxa de investimentos no segundo trimestre de 2022, o setor produtivo ainda vê restrições para que o país se recupere do colapso verificado a partir de 2013.

Uma das questões em discussão, inclusive entre os candidatos à Presidência da República, é qual será a contribuição do setor público para que o país consiga suprir todas as suas necessidades de investimentos em infraestrutura produtiva e social.

 

Puxada pelo setor privado, a taxa de investimento da economia brasileira passou de 14,3% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre de 2017 para 18,7% no mesmo período de 2022. Apesar da recuperação, o número está há nove anos abaixo do recorde de 21,5% verificado em 2013, época em que o desempenho do indicador era puxado pelo governo federal e pelas empresas estatais.

Naquela época, os investimentos em infraestrutura públicos e privados chegaram ao equivalente a R$ 208 bilhões (a preços de 2021). No ano passado, foram R$ 148 bilhões, aquém da necessidade anual de R$ 374 bilhões para os próximos dez anos, segundo estimativa da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).

Para a entidade, não será possível alcançar tal cifra apenas contando com recursos privados, uma vez que muitos projetos não têm retorno econômico –caso de boa parte da malha rodoviária que ainda não foi privatizada.

“Não adianta querer jogar tudo para o setor privado, porque o setor privado não tem apetite, em função de rentabilidade e risco, para todas as necessidades. O mercado de capitais privado sozinho não é suficiente. Vai precisar do BNDES”, afirma Roberto Figueiredo Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib.

Ele cita ainda dados do IBGE que mostram que o investimento total no segundo trimestre deste ano apresentou queda em relação ao quarto trimestre do ano passado. Guimarães diz que o indicador deve ficar estável no segundo semestre, diante de muitas incertezas que estão levando ao adiamento de projetos.

“Muitas decisões de investimento estão sendo postergadas. A gente não acredita que seja por questões políticas. É mais pela questão econômica: crise mundial, crise brasileira, taxa de juros muito alta, preços de insumos”, afirma.

Grande parte da contração do investimento durante a recessão de 2014-2016 está ligada ao setor de construção civil, principal componente desse indicador. O setor perdeu participação no investimento de 52% (2014) para 44% (2019, último dado do IBGE disponível).

Com isso, cresceu o peso de itens como máquinas e equipamentos (de 37% para 41%) e investimentos de propriedade intelectual (de 10% para 13%), como criação de softwares e pesquisa e desenvolvimento.

Na divulgação do segundo trimestre de 2022, ainda sem números consolidados, o IBGE destacou o crescimento da construção e softwares.

A abertura desses dados feita pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) mostra que o crescimento acumulado em 12 meses da construção foi de 6,8% até junho deste ano, enquanto o item máquinas e equipamentos encolheu 0,8% –em uma tendência de desaceleração vista desde setembro do ano passado.

“Máquinas e equipamentos deram um salto em 2021. Houve investimento naquele momento, tanto de nacionais como de importadas, mostrando que entraram novas tecnologias. No período mais recente, voltou a ficar negativo”, afirma Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do FGV Ibre.

“O que aconteceu agora foi graças à construção, que subiu um pouco no período mais recente.”

Considera afirma que ainda não vê uma clara recuperação do investimento no Brasil. Segundo ele, os períodos em que houve recorde na formação bruta de capital fixo foram aqueles em que havia grandes obras feitas pelo governo. Agora, há uma expectativa de que mudanças regulatórias e concessões ajudem a melhorar o indicador.

“Provavelmente vai ter investimento agora em função do marco do saneamento e das concessões de aeroportos. São coisas que poderão vir, não significa que já temos isso.”