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Economia
IPCA mostra pressão ainda forte em alimentação, serviços e bens industriais
O aumento dos preços da comida é uma das grandes dores de cabeça do governo
12/02/2025
Valor Econômico

Por Sergio Lamucci

O IPCA de janeiro teve uma alta fraca, de 0,16%, mas a abertura do indicador mostra um cenário bem menos benigno para a inflação. Os preços da alimentação no domicílio tiveram uma desaceleração, mas ainda subiram mais de 1% no mês, enquanto os serviços mais sensíveis à demanda também avançaram a um ritmo forte. As cotações dos bens industriais, por sua vez, perderam um pouco de fôlego no mês passado em relação a dezembro, mas o aumento foi mais intenso do que o registrado em todos os outros meses do ano passado. Para completar, os núcleos, que buscam reduzir ou eliminar a influência dos itens mais voláteis, aceleraram mais uma vez.
“Apesar de a inflação cheia ter desacelerado, o dado de janeiro mostra que os impactos da depreciação cambial, da atividade aquecida e dos choques sobre alimentos continuam afetando o curto prazo”, resumem os economistas do Bradesco. Em 12 meses, o IPCA passou de 4,83% em dezembro para 4,56% em janeiro, ainda longe da meta de 3%. Para 2025, a estimativa do banco é de uma inflação de 5,7%.
A alta modesta do IPCA “cheio” em janeiro, a menor para o mês desde o Plano Real, se deveu especialmente ao tombo de 14,21%, dos preços de energia elétrica, em função da incorporação do bônus de Itaipu. Já o grupo alimentação no domicílio passou de uma variação de 1,17% em dezembro para 1,07%, ainda assim uma variação forte, puxada pelo aumento de 36,14% da cenoura, de 20,27% do tomate e de 8,56% do café moído. Em 12 meses, houve desaceleração de alimentação no domicílio de 8,22% para 7,44%, segundo números da MCM Consultores Associados.
O aumento dos preços da comida é uma das grandes dores de cabeça do governo, por afetar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atingindo especialmente o poder de compra dos mais pobres, cuja cesta de consumo é mais concentrada nesses produtos. A expectativa é que alimentação no domicílio tenha uma variação menor que os 8,22% de 2024, mas ainda assim não será uma alta modesta – há estimativas de que o aumento neste ano ficará na casa de 6%. Além disso, o nível de preços de alimentos está muito elevado, devido aos aumentos dos últimos cinco anos. No acumulado de janeiro de 2019 a janeiro janeiro de 2025, o grupo alimentação no domicílio subiu 69,9%, enquanto o IPCA “cheio” avançou 39,4%, nos cálculos do economista Fabio Romão, da LCA 4Intelligence.
Os preços dos serviços também trouxeram más notícias. O grupo dos chamados serviços subjacentes, que reúne os itens mais sensíveis à atividade econômica, passou de alta de 0,67% em dezembro para 0,86% em janeiro, segundo a MCM. Em 12 meses, subiu de 5,84% para 5,95%.
Já os bens industriais subiram 0,47% em janeiro, depois de avançar 0,64% em dezembro. Foi uma alta mais modesta, mas bem superior aos 0,15% a 0,31% observados de abril a novembro de 2024, de acordo com a MCM. Parece ter havido uma mudança de nível da evolução mensal desses bens, influenciada pelo câmbio mais desvalorizado. Em 12 meses, houve aceleração de 2,89% em dezembro para 2,99% em janeiro. Nessa métrica, os bens industriais chegaram a acumular alta de apenas 0,35% em abril e maio de 2024. Mas, se o câmbio se firmar na casa de R$ 5,80, e não acima de R$ 6, é possível que a inflação desses produtos se acomode em níveis mais modestos.
Por fim, a média de cinco núcleos acompanhados com atenção pelo Banco Central (BC) acelerou de 0,58% em dezembro para 0,61% em janeiro, fazendo o acumulado em 12 meses passar de 4,34% para 4,54%, segundo a MCM.
Nesse cenário, o resultado do IPCA de janeiro não mostrou um alívio significativo no comportamento da inflação, apesar do índice “cheio” bastante baixo. Houve alguma desaceleração de alimentação no domicílio e de bens industriais, mas para níveis ainda altos. Com a inflação corrente distante da meta de 3% e as expectativas para o IPCA nos próximos anos não indicando a convergência para esse percentual, o BC deverá continuar a aumentar os juros, possivelmente levando a Selic, hoje em 13,25% ao ano, para a casa de 15%.