Thais Herédia
A recuperação do grau de investimento pelo Brasil é um sonho distante. O selo de bom pagador da dívida pública foi perdido em 2015 quando as maiores agências de classificação de risco do mundo rebaixaram a nota do país. Passados quase 10 anos, a situação fiscal teve poucos avanços, segundo analistas ouvidos pelo blog, e não há motivação para recuperação do grau de investimento.
Em 2023, duas agências de risco elevaram a nota do Brasil para um patamar dois níveis abaixo do selo de investimento. A Fitch, em julho, e o S&P, em dezembro, alcançaram o grau da Moody’s, igualando a avaliação de risco de crédito soberano do país.
Agora, uma próxima mudança deve demorar. O intervalo de análise das agências é mais longo porque o diagnóstico sobre a qualidade das contas públicas do país demanda mais tempo.
“A volta do grau de investimento não vai acontecer tão cedo. Lá no começo dos anos 2000, o país precisou fazer muita coisa para conquistar a nota em 2008: controle da dívida, superávits fiscais seguidos e crescimento econômico. Será que vamos ter uma mudança de visão sobre a política fiscal como aconteceu no governo FHC 1 e Lula 1? ”, disse Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados.
A pergunta do economista tem a mesma resposta entre a maioria dos analistas brasileiros é que não. Mesmo entre aqueles que aprovaram o novo arcabouço fiscal formulado por Fernando Haddad.
O que fundamenta o pessimismo com a dinâmica das contra públicas é a premissa de não cortar gastos e garantir resultados com aumento da arrecadação.
Pelos cálculos dos economistas de mercado ouvidos para a pesquisa Focus do BC, o Brasil terá déficits primários até 2027, pelo menos. Portanto a dívida pública vai seguir em alta neste período, adiando a estabilidade fiscal.
No PLDO de 2025 apresentado nesta segunda-feira (15), o superávit primário só será possível no último ano do mandato de Lula, um cenário considerado otimista demais.
“A política fiscal não pode ser do ministro da Fazenda. Ela tem que ser do governo, acordado com congresso. Nos últimos 25 anos, isso só aconteceu no segundo mantado de Fernando Henrique, o primeiro de Lula, com Antônio Palocci, e no governo de Michel Temer. No resto, foi de desajuste total”, afirma Sergio do Vale.
A apresentação da LDO revelou que o governo Lula foi capaz de flexibilizar muito rapidamente as regras que ele mesmo criou para as contas públicas. A mudança na meta fiscal para o ano que vem, de superávit de 0,50% para um resultado zerado, foi considerada mais realista, mas não menos preocupante, porque a premissa da gestão não mudou.
“Olha a velocidade que piorou o mercado financeiro nas últimas semanas. Claro que tem influência do exterior, mas muita gente teme que o Lula 3 esteja caminhando para ser o Dilma 1. Já tem até o roadmap da Dilma na mão, parece um checklist de avião, com todos os passos sendo seguidos”, disse ao blog um experiente gestor de investimentos.