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Para empresários do comércio, cenário econômico de 2023 é nebuloso
Associação Comercial de São Paulo projeta alta de 1,5% nas vendas deste ano. Segundo a entidade, a falta de clareza nas propostas econômicas do novo governo impedem estimativas mais otimistas
20/01/2023
Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo

Renato Carbonari Ibelli

A expectativa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para as vendas do varejo deste ano são modestas, apontam alta de 1,5% sobre 2022. Os juros elevados, juntamente com a alta da inadimplência das famílias e a queda na renda, impedem projeções mais otimistas neste momento.

A perspectiva da ACSP é que esses fatores irão limitar o crescimento do setor, especialmente no primeiro semestre. No segundo semestre as vendas devem acelerar um pouco, sustentadas principalmente pelo Bolsa Família e pela disponibilidade de crédito. Mas não devem deslanchar por conta do elevado nível de endividamento do brasileiro e dos juros proibitivos.

Apesar de o novo governo ter anunciado uma série de medidas fiscais, elas não garantem tranquilidade aos agentes econômicos no médio e longo prazo, de acordo com Marcel Solimeo, economista da ACSP. “Não parecem ser suficientes para estimular o Banco Central a baixar os juros”, disse o economista em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 19/01.

O comércio tem moderado suas projeções também pela frustração com o desempenho do ano passado. Depois de um longo período de restrições às atividades econômicas motivadas pela pandemia de covid-19, parecia que 2022 seria um ano de forte recuperação das vendas. Mas até novembro a alta acumulada é de 1,1%, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

DESCONFIANÇA

Segundo Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP, ainda há desconfiança entre os empresários com relação aos planos do novo governo. “Não há clareza sobre o que pretendem fazer na economia, e isso faz com que os empresários segurem seus investimentos”, disse.

Segundo Cotait, as primeiras sinalizações preocupam. O presidente da ACSP fez referência às mudanças no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), reestabelecendo o voto de desempate favorável à União, em prejuízo ao contribuinte, que era favorecido até então. “Essa alteração foi feita por meio de um decreto, sem contestações da sociedade. Isso é ruim, mostra que o Estado está querendo auferir mais impostos”, disse.

O presidente da ACSP também disse que há incertezas sobre a reforma tributária que o governo Lula pretende fazer. “A reforma foi anunciada para o primeiro semestre, mas qual será essa reforma? As que estão sendo discutidas no Congresso, a PEC 110 e a 45, vão aumentar a carga tributária para o Comércio e Serviços. Se forem essas as reformas, melhor deixar como está hoje”, disse Cotait.

Para o dirigente, uma boa sinalização do novo governo aos empresários seria discutir a reforma administrativa antes da reforma tributária. “Deveriam trabalhar os corte de gastos, mas o que a PEC da Transição aponta é que se pretende elevar os gastos e contrabalançar isso com aumento de receita.”

Sem equilíbrio nas contas públicas, diz Cotait, a taxa de juros não recua e a economia não vai crescer. A ACSP projeta alta de apenas 0,6% para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023.

VAREJO DA CAPITAL PAULISTA

As vendas do varejo da capital paulista cresceram 7,7% no segundo semestre do ano passado na comparação com igual período de 2021, de acordo com Balanço de Vendas da (ACSP). A comparação com o primeiro semestre do ano passado não foi possível em razão das medidas restritivas às quais o comércio foi submetido.

Cálculos feitos pelos economistas da ACSP mostram retração de 2,4% na comparação entre o resultado fechado de 2022 e o de 2019, período pré-pandemia.