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Prévia do PIB, IBC-Br sobe 0,60% em janeiro, abaixo do esperado
Variação mensal de janeiro veio abaixo da mediana das 22 estimativas colhidas pelo Valor Data, de alta 0,7%
19/03/2024

Por Gabriel Shinohara e Anaïs Fernandes

 

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,60% em janeiro, na comparação dessazonalizada com dezembro, conforme divulgado nesta segunda-feira pela autoridade monetária. Em dezembro de 2023, o resultado foi de alta de 0,82% (sem alteração após revisão do dado divulgado anteriormente).

A variação mensal de janeiro veio abaixo da mediana das 22 estimativas colhidas pelo Valor Data, de alta 0,7%, com intervalo de projeções de -0,2% a +1,6%. Já a mediana de 11 estimativas para o resultado anual era de alta de 2%.

O resultado de janeiro representou também o quinto mês seguido de alta no indicador. Em comparação com dezembro, o número registrado é menor do que a alta de 0,82% (sem alteração após revisão do dado divulgado anteriormente), e maior do que outros meses do fim do ano passado, quando o indicador marcou alta de 0,1% em novembro de 0,05% em outubro.

Devido às constantes revisões, o indicador acumulado em 12 meses é mais estável do que a medição mensal. No acumulado de 12 meses até o primeiro mês de 2024, a alta foi de 2,47%. Em relação a janeiro de 2023, por sua vez, houve alta de 3,45%. Por fim, na média móvel trimestral, usada para captar tendências, o IBC-Br teve alta de 0,50% em relação aos três meses encerrado em dezembro.

Para o economista André Perfeito, os dados das pesquisas mensais do IBGE já apontavam para um início de ano com Produto Interno Bruto (PIB) mais forte e o IBC-Br mostrou isso. Assim, ele reiterou sua projeção de crescimento para 2024 de 2,2%, acima da mediana de mercado mostrada pelo último relatório Focus, de 1,78%.

Em janeiro, a produção industrial caiu 1,6% na comparação com o mês anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o volume de serviços prestados no país registrou crescimento de 0,7% no primeiro mês do ano, o terceiro seguido de crescimento, de acordo com o IBGE. Por sua vez, as vendas do varejo cresceram 2,5% em janeiro ante o mês anterior, refletindo as promoções no mês após queda de dezembro.

Em relatório, o chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, avalia que a atividade acelerou no fim do quarto trimestre do ano passado e continuou firme em janeiro deste ano. Para o futuro, o economista espera que a atividade deve continuar se beneficiando de uma série de fatores, como o estímulo fiscal “significativo” e o aumento “generoso” do salário mínimo, mas mitigado por, entre outros pontos, condições monetárias domésticas ainda restritivas e um nível alto de endividamento das famílias.

Apesar de ter vindo um pouco abaixo das expectativas, o IBC-Br de janeiro corrobora a visão de que a economia pode ter tido um início de ano um pouco melhor do que o esperado, diz Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg.

“A dúvida é se isso se sustenta ao longo do primeiro trimestre ou não. Ainda estou um pouco cético com a ideia de um primeiro trimestre muito exuberante. Mas, com o que temos de informação hoje, a atividade foi um pouco mais forte”, afirma.

Ele observa que o resultado de janeiro deixa uma “herança estatística” de 1,2% para o IBC-Br no primeiro trimestre. “É bastante forte”, afirma, observando que o dado está bem acima da sua projeção atual para a alta do PIB no período, de 0,4%. “Pelos dados de janeiro, essa projeção tem um viés de alta”, acrescenta.

Serrano também considera que as surpresas com a PMC e a PMS de janeiro foram “bem importantes”. Para ele, a alta do varejo pode ter sido temporária, mais ligada a questões de preços, com descontos expressivos, do que a uma dinâmica consistente da demanda.

“Acho que foi um pouco de ruído, um número meio fora da curva. Obviamente, isso vai depender de confirmação com os dados de fevereiro, mas eu esperaria uma devolução importante do varejo no mês seguinte”, afirma.

Projeções

Serrano nota, porém, que há uma correlação importante entre o mercado de trabalho e o setor de serviços. O Brasil abriu quase 180,4 mil vagas com carteira assinada em janeiro, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais que o dobro da expectativa mediana colhida pelo Valor Data, de 86,5 mil postos.

“O mercado de trabalho aponta ainda uma resiliência. Aparentemente, a atividade está começando o ano melhor mesmo”, afirma. O desempenho pode refletir, segundo Serrano, a defasagem da política monetária, que está em um ciclo de afrouxamento desde agosto do ano passado, e também algum impulso fiscal, com transferências de renda e reajuste do salário mínimo.

Pela dinâmica do ciclo econômico, com a atividade saindo de um terceiro e um quarto trimestre de 2023 estagnados, a expectativa era que ela fosse reacelerando ao longo da primeira metade de 2024, para ganhar tração a partir do terceiro trimestre, aponta Serrano.

“Pode ser que isso, temporalmente, se distribua de outra forma”, afirma. Se esse for o caso, haveria implicações para o PIB de 2024, já que o que acontece no primeiro trimestre tem um peso maior sobre o ano.

“Se a surpresa com os dados de janeiro se confirmar ao longo do primeiro trimestre, começamos a nos afastar de um número de PIB ao redor de 1,5% para algo mais perto de 2%, eventualmente um pouco acima disso. Esse seria o principal resultado”, diz Serrano. Por enquanto, ele projeta alta de 1,7% para a economia brasileira em 2024.