Por Lucianne Carneiro e Rafael Rosas
O ano de 2024 foi marcado pela terceira alta seguida do rendimento domiciliar, mas agora com redução de desigualdade, mostraram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Rendimento de todas as fontes 2024. O rendimento domiciliar per capita por mês cresceu 4,7% em 2024 e renovou seu recorde, para R$ 2.020, após taxas de expansão de 6,9% (2022) e 11,5% (2023).
O índice de Gini do rendimento domiciliar per capita – referência tradicional para medir disparidades de rendimentos – voltou a cair no ano passado, para 0,506, após ter ficado estável na passagem entre 2022 e 2023 (0,518).O número de 2024 é o menor desde o início da pesquisa, em 2012. O índice varia entre 0 e 1: quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade do país. O índice de Gini do trabalho recuou de 0,494 em 2023 para 0,488 em 2024. É o segundo menor desde 2012, à frente apenas de 2022 (0,486).
Outros indicadores de renda divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (8) também registraram os pontos mais altos da série da pesquisa, iniciada em 2012, como rendimento médio mensal de todas as fontes (R$ 3.057) e de todos os trabalhos (R$ 3.225); massa de rendimentos do trabalho (R$ 328,6 bilhões) e massa de renda domiciliar per capita (R$ 438,3 bilhões). Todos os valores são reais, a preços de 2024.
O rendimento médio domiciliar per capita inclui rendimento de todas as fontes e não apenas do trabalho. Nessa conta, entre valores recebidos por aposentadoria ou pensão; aluguéis; pensão alimentícia; programas sociais; seguro-desemprego e rentabilidade de aplicações financeiras, por exemplo.
“O ano de 2024 manteve a tendência de crescimento da renda observada desde 2022, ainda que a uma taxa menor. Porém, foi um ano que se observou uma melhoria na distribuição de renda. Isso caracterizou o ano de 2024: foi de crescimento, mas com um crescimento com melhor distribuição de renda”, afirma o analista da pesquisa Gustavo Geaquinto Fontes.
Diferentes cálculos usados para medir a distribuição de renda a redução da concentração de renda para o menor nível observado no país, ainda que o fenômeno se mantenha em patamar elevado.
Em 2024, o rendimento domiciliar médio per capita por mês dos 1% mais ricos no país (R$ 21.767) correspondia a 36,2 vezes ao valor médio dos 40% de menor renda (R$ 601).
A razão entre o rendimento dos dois grupos caiu de 39,2 vezes em 2023 para 36,2 vezes em 2023. Antes da pandemia, em 2019, essa diferença era de 48,9 vezes, o maior número de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Outra forma de olhar a disparidade de renda no Brasil é pela relação entre o rendimento dos 10% com rendimentos mais elevados e os 40% da população com menor renda.
Pelo indicador de rendimento domiciliar per capita, em 2024, essa razão era de 13,4 vezes. A desigualdade permanece, mas esta foi a menor marca da série histórica da pesquisa, que atingiu seu pico (17,1 vezes) em 2018.
“O Brasil ainda é, inegavelmente, um país bastante desigual, mas vimos melhora da distribuição de renda em 2024 por diferentes indicadores”, diz Fontes.
O aumento da renda e a redução da desigualdade é explicado por uma combinação de fatores, segundo o analista do IBGE, como aumento da renda do trabalho, expansão dos programas sociais – tanto em valores médios como em famílias atendidas -, reajuste real do salário mínimo e taxas de crescimento da renda mais intensa nas camadas de menores rendimentos da população que naquelas de maiores rendimentos.
O grupo dos 5% mais pobres do Brasil tinha rendimento domiciliar per capita médio de R$ 154 por mês, em valores brutos. Nessa faixa de renda, o aumento em 2024, ante 2023, foi de 17,6%. No grupo seguinte, de quem está entre 5% e 10% de menor renda, o valor médio subiu 12,8% e atingiu R$ 247 em 2024.
No outro extremo, o rendimento médio per capita por mês dos 1% mais ricos cresceu 0,9%, para R$ 21.767. A faixa dos 5% com maior rendimento registrou alta de 0,2% para R$ 8.475. Na média, o aumento foi de 4,7%.
“Nas classes de menor renda, as taxas [de crescimento] ficaram acima da média, enquanto nas de maior rendimento o aumento ficou abaixo da média. Isso vem do dinamismo do mercado do trabalho, mas também dos programas sociais”, explica.
O crescimento de 4,7% do rendimento médio mensal domiciliar per capita as desigualdades de renda entre as regiões e os Estados brasileiros. Se na média brasileira o montante foi de R$ 2.020 em 2024, os valores ficaram em R$ 1.389 no Norte e R$ 1.319 no Nordeste, o menor entre as cinco regiões do país.
Destaca-se que o Nordeste teve o segundo maior crescimento anual, com 10,6% entre 2023 e 2024, e mesmo assim amargou o menor patamar entre as regiões. O maior avanço entre 2023 e 2024 coube à Região Sul, com alta de 11,2%.
Um olhar para os Estados brasileiros mostra a intensidade dessa desigualdade. Todas as unidades da federação com rendimento médio mensal real domiciliar per capita superior à média brasileira de R$ 2.020 estão nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Enquanto, no topo do ranking, o Distrito Federal teve rendimento médio mensal real domiciliar per capita de R$ 3.276, seguido pelos R$ 2.588 de São Paulo e pelos R$ 2.544 de Santa Catarina, na outra ponta da tabela o Maranhão era o de menor nível (R$ 1.078.)
A massa de rendimentos de todos os trabalhos bateu recorde no Brasil em 2024, com R$ 328,6 bilhões. O valor representa alta real de 6,5% na comparação com os R$ 308,5 bilhões de 2023.
O aumento reflete, segundo o IBGE, a alta do rendimento médio do trabalho (3,7%) e da população ocupada (2,7%). A população ocupada com rendimento passou de 99,2 milhões de pessoas em 2023 para 101,9 milhões de pessoas em 2024, também o maior valor da série histórica. A participação do rendimento do trabalho na composição do rendimento domiciliar per capita cresceu de 74,2% para 74,9%, de 2023 para 2024, embora se mantenha abaixo da máxima da série (76,9%), em 2014.